30.8.06

Só pra Constar

Amanhã é 31 de agosto...

Já se passaram 241 dias de 2006.

Já ou ainda?

Ainda.

Ainda temos 124 dias em 2006.

Ainda ou Somente?

Somente.

Somente a quem deve dizer essas coisas?

28.8.06

Mudanças LTDA

Lembro que quando tinha meus 17 anos escrevi na ocasião de minha mudança de Caruaru para Recife (digo minha porque meus pais ficaram morando por lá ainda um tempo), algo cujo o mote era "Mudanças são muitas nessa vida", e falava sobre mudança de casa, de roupa, de hábitos e habitates, de sexo, de time, de credo, sei lá. E no final me perguntava se tinha esquecido de algo. Tudo se muda, ou será que somos nós? Esses seres inquietos, eternamente mutáveis.

Fiz as contas nos dedos. Esta é a oitava casa em que moro. Se levarmos em conta que vou fazer 24 anos, então passei três anos pra cada moradia. Razoável.

Meus pais até já tinham se acostumado. Eu já saí de casa algumas vezes, mas nunca por problemas. Sempre por motivos de estudo ou trabalho, duas coisas que gosto bastante. Só que dessa vez me mudei de vez. Saí para morar com minha companheira, e meu filho (a) que está por vir. Já vamos juntos seis anos, eu e ela, quase dez que nos conhecemos e agora aos poucos, devagarinho, estamos realizando um sonho antigo, o de termos nosso cantinho com nossa cara.

Estamos há dois dias em "nossa casinha". E é uma eternidade de alegrias e descobertas. Já ganhamos nossa primeira plantinha, de Tia Ana, que é um ser que carrega consigo as flores, pra onde ela vai. Meio contrabandista de flores, como diria Samarone. Ela me contou que essa planta dá ums flores em forma de pequenas borboletas amarelas. Elas sempre voltam ao meu viver. As borboletas amarelas.

Ontem meu pai falou algo sobre mudança e arrumação: "Tenha calma, faz 25 anos que eu e sua mãe arrumamos nossa casa". Estou calmo, pai. Bem mais do que antes. Nem rouo mais minhas unhas. E os cabelos brancos já despontam nessa minha carapinha negra. Aí me lembro de Arnaldo Antunes e como não poderia eu passar por aqui sem uma citação, por que citações são uma constante em meu caminhar, reproduzo.

"Na nossa casa amor-perfeito é mato
E o teto estrelado também tem luar
A nossa casa até parece um ninho
Vem um passarinho pra nos acordar
Na nossa casa passa um rio no meio
E o nosso leito pode ser o mar

A nossa casa é onde a gente está
A nossa casa é em todo lugar

A nossa casa é de carne e osso
Não precisa esforço para namorar
A nossa casa não é sua nem minha
Não tem campainha pra nos visitar
A nossa casa tem varanda dentro
Tem um pé de vento para respirar

A nossa casa é onde a gente está
A nossa casa é em todo lugar"


E a canção acaba com uma risada bem gostosa de criança.







24.8.06

"De noite o sol vai pra debaixo de minha cama..."

O sol já vem ali. Vai querer reclamar sua parte, de minha pouca melanina.
Adoro o sol, ele traduz e ativa várias vitaminas em meu corpo.

Os óculos-escuros se perderam, ficaram em alguma gaveta, esquecidos.
Não tem problema, há tempos que não os uso.

Fico à sombra mesmo. À sombra e meus penZamentos.
Com Z mesmo, para penZar diferente.

Com chuva acho mesmo tudo igual.
Esse papo de filtro solar é algo global, penso eu, e quebro a rima.

O sol se apaga na linha do mar, quando desce.
Talvez nem sempre em todos os locais do mundo.

Olhar diretamente para o sol, não é bom.
Mas recarrego as baterias, com o simples fato de,
Poder imaginar que olho diretamente para o sol,
E ele se encontra no centro de minha pupila.

Vermelho-apretado, pardamente-único.
Com o sangue irrigo essas linhas e durmo feliz da vida.
Achando que meu travesseiro se ilumina, cada vez que encosto minha cabeça
Na borda no universo.

21.8.06

Desarmamento

Quisera eu escrever um poema
Uma divagação, um desabafo, num bloquinho-de-nota-real,
Com caneta bic, que é a que melhor escreve
Mas me lembrei que nunca saio de casa armado.

Alguns grandes amigos meus me ensinam o valor
De poder colocar em um pedaço de celulose qualquer,
Em um guardanapo semi-seco, na palma da mão
As entranhadas linhas de meu estômago elástico.

Observando o desmanchar, o manchar, o desmanchar, o manchar
Da vida, em gotas, em formas, em gotas, em formas,
Pretas talvez, azuis quase, vermelhas quem sabe, improbábeis verdeados.
Que seguem formando letras, palavras, frase, parágrafos, orações inteiras
Sem ave-marias ou aí meu deus me acuda.
Apenas sentimentos que não se colhem, apenas se plantam.

Me lembro então de algo que Mario Quintana escreveu.
Ele não foi imortalizado, "foi, não foi, foi, não foi".

Não chega a ser
Um parágrafo, mas, sem dúvida é uma oração
Que oxalá meu pai salva aqueles ali que acabaram de atravessar o curso do leito da margem do rio perene transformação:

"Eles passarão. Eu passarinho".

Sigo agora mas calmo, com menos aflição e querendo andar armado.
Pra assassinar os "aís" dessa vida.
Mato com a tinta da caneta bic,
Em qualquer papel que me apareça razoavelmente desarmado .

15.8.06

Sobre citações e Borboletas Amarelas

Finalmente constatei o que é essa sensação boa. Essa felicidade e alegria que me assaltam todos os dias, o dia todo, já faz algum tempo. São as borboletas amarelas. Elas que me acompanham aonde vou, sobrevoando serelepes e faceiras, entorno de minha cabeça e de todo o meu corpo. Com seu bater de asas surdo, uma leveza só.

Descobri que posso ser original - mesmo citando trechos geniais que outros sentiram ou escreveram. Descobri que posso decifrar e descrever meus sentimentos, únicos, mesmo que me aproprie do que já foi feito anteriormente. E é isso que faço aqui, com todo orgulho e vontade. Peço licença ao mestre Gabo, Gabriel Garcia Márquez para os menos íntimos, e afano-lhe um dos mais belos trechos de Cem Anos de Solidão, lançado em 1967, (e na minha modesta opinião um dos cinco maiores livros já escritos por seres humanos, no caso, nós).

O realismo fantástico, como gostam de classificar os críticos literários, de Gabo, faz parte de minha vida há muito tempo. E essa passagem em que um homem apaixonado se ver rodado de borboletas amarelas, é de uma beleza necessária. Precisamos cultivar mais essas borboletas e cuidar para que elas não se afastem jamais.

É assim que tenho me sentido nesses últimos meses e descobri também que posso manter isso sempre. Basta apenas manter o bom humor, e a tranquilidade. Como diz o poeta Walter Franco nos versos de Coração Tranquilo; "tudo é uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo".

Tente observar as borboletas amarelas que lhe rodeiam.

14.8.06

Nós, os acrobatas

Passei o fim de semana com esse "poeminha" na cabeça, e como nesta segunda ele ainda não havia me abandonado, divido com vocês essa pérola de nosso poetinha maior.
Vai que é tua Vininha!!!

"Subamos!
Subamos acima
Subamos além, subamos
Acima do além, subamos!
Com a posse fisica dos braços
Inelutavelmente galgaremos
O grande mar de estrelas
Através de milênios de luz.

Subamos!
Como dois atletas
O rosto petrificado
No pálido sorriso do esforço
Subamos acima
Com a posse física dos braços
E os músculos desmesurados
Na calma convulsa da ascensão.

Oh, acima
Mais longe que tudo
Além, mais longe que acima do além!
Como dois acrobatas
Subamos, lentíssimos
Lá onde o infinito
De tão infinito
Nem mais nome tem.

Subamos!
Tensos
Pela corda luminosa
Que pende invisível
E cujos nós são astros
Queimando nas mãos
Subamos à tona
Do grande mar de estrelas
Onde dorme a noite.

Subamos!
Tu e eu, herméticos
As nádegas duras
A carótida nodosa
Na fibra do pescoço
Os pés agudos em ponta.
Como no espasmo.

E quando
Lá, acima
Além, mais longe que acima do além
Adiante do véu de Betelgeuse
Depois do país de Altair
Sobre o cérebro de Deus
Num último impulso
Libertados do espírito
Despojados da carne
Nós nos possuiremos.
E morreremos
Morreremos alto, imensamente
Imensamente Alto.

Vinícius de Moraes

10.8.06

A Onça Caetana

Por favor, se você chegou até aqui leia o texto até o fim. Porque ele é parte de mim, e de uma reflexão que quero fazer com todos que aqui chegaram. O texto é interneticamente um pouco extenso. Mas não desista, a vida é extensa também. Obrigado por seguir por aqui!

Se você der uma olhada nos outros textos, esses que estão ali um pouco abaixo, irá perceber que não gosto muito de temas soturno. Mas não teve jeito. Após as dezenas de imagens que presenciei hoje, no meu local de trabalho, preciso dividir com os caros cinco leitores que se detém nessas mal tecladas linhas. Hoje vou falar sobre a morte. Não aquela coisa de filme e etc. Não aquela coisa do além, sem explicação e cheia de penduricalhos que a acompanham neste e em outros mundos.

Para quem ainda não sabe eu trabalho em dois grandes hospitais do estado de Pernambuco. Que ironicamente levam o nome de dois famosos políticos. Um a nível nacional e outro estadual. Getúlio e Agamenon. Enfim, narizes de cera a parte, voi entrar nas imagens e reflexões que hoje vieram ao meu encontro. Farei apenas um recorte. Não quero aprofundar nos fatos, e nem aumentar o drama para elevar a audiência deste blog (ao contrário de muitos autores de novela).

O número de mortes que ocorreram hoje pela manhã foi maior que o normal. Constatei isso pelo grande movimento de carros de funerárias no necrotério e dado também o volume de parentes, desconsolados, chorando pelos cantos. Uma imagem de um mulher, aparentando uns 55 anos foi que me chamou mais atenção. Ela estava em um canto, chorando baixinho, quase inaudível.

Parecia sozinha, sem ninguém lhe dando atenção. Eu fiquei de longe, observando-a, e torcendo para que ela não me notasse. Queria ficar invisível perante esse momento. Não entendam, porém, dignissímos cinco leitores, invisível como uma metáfora para fugir daquilo, daquela sensação. Não! Digo invisível para poder passar por observador em primeira pessoa. Longe dos dramas e pensamentos que nos aflingem, nós podres mortais. Vamos ao recorte:

Cabelos presos. Banquinho de madeira. Sem encosto. Costas apoiadas na parede, forrada de azulejos brancos. Encardidamente brancos. Choro. Um choro copioso. Desprovido de qualquer bloqueio ou convenção social. Porque pra morte não existe convenção alguma. Saudade estampada no semblante. Saudade apenas. Simplicidade escrita no jeito, no gesto, na solidão. Simples como é nascer. Simplesmente se morre.

Quero apenas refletir e levar vocês a reflexão sobre esse fato, que muitos nem pensam, não gostam de pensar, tem medo. Reflitam meus diletos cinco leitos. Pensem em dizer e fazer o que gostam e que precisam. Mas não com desespero ou sofreguidão como se fossemos encontrar a onça caetana na próxima esquina. Façam com amor, com dedicação e com afeto. Porque o resto é apenas saudade.

Como diria sabiamente o mestre Ariano Suassuna: "...eis a única coisa que une tudo quanto é vivente em um só rebanho. Porque tudo que é vivo, morre".

8.8.06

Fuxico *

Ontem fui caminhar na beira-rio. Ok, sou liso e não gosto de academia, mas constatei uma coisa no mínimo curiosa. Tive uma forte sensação de que as pessoas ali caminhando, correndo, se alongando, fazendo sei lá mais o quê, não estava ali porque querem perder peso, ou cuidar da saúde, ou ainda ficar lindos e esbeltos.

Não sei explicar direito o que estou dizendo, mas parece que todos estavam ali em busca de algo que não consegui definir. Algo maior do que a estética ou a beleza exterior. Quem sabe futuramente venho em outro texto explicar isso que afirmo agora...

Dia desses li uma bela crônica de Samarone Lima que talvez esclareça um pouco o que estou falando. Para quem não sabe, ou não percebeu ainda, sou um admirador dos textos dele. E Sama é um grande anotador das coisas mínimas - as preciosas.

No texto ele contava a história de uma visita que fez ao cemitério em Fortaleza -CE, e sobre as flores depositadas em memória dos que já se foram serem de plástico. No meio do texto ele escreveu "isso" aqui: "Resistem às chuvas, não morrem nunca, o cemitério fica todo coloridinho, mas não gostei nada. No final das contas, são de plástico, não fenecem, não têm a grandeza do precário, não vêm com o cheiro de tantas gerações de flores se perpetuando".

Meditei durante um bom tempo a parte que ele diz: ...não fenecem, não tem a grandeza do precário... Acho que somos nós. A humanidade. Não conseguimos jamais chegar perto dessa grandeza. A grandeza do que não se enxerga a olho nu. Das transformações, da ação, tão natural as leis e regras da natureza. E nós tentamos durante séculos (ainda continuamos a tentativa) se desvencilhar dessa magnitude simples.

Samarone encerrou a crônica disparando essa pérola que me comoveu muito, ultimamente tenho me comovido bastante com as pequenas belezas da vida. Segue o trecho em questão: "Tenho certeza que minha avó preferiria flores de verdade. No domingo levarei umas, na base do contrabando mesmo.Vai ser ótimo. Eu sempre quis ser um contrabandista de flores".

Foi isso que percebi nas pessoas que caminhavam na beira-rio. Cada um pareci um contrabandista. Só não sei do que. Acho que caba apenas a cada um descobrir o que quer contrabandear nesse mundão-tão-grande-de-meus-deus-dará .

* Fuxico é um técnica de corte e costura com mais de 150 anos de existência que recicla materiais e criar peças de decoração e de moda a custo zero. Para fazer bastam retalhos, linha, um molde redondo, agulha, tesoura e criatividade.

4.8.06

Fim de Semana

Ah...
O fim de semana. Vem chegando de mansinho.

Surgem as visitas aos que sentimos saudades;

A rotina muda;

Os horários são outros;

O descano e a preguiça pedem passagem;

Até o cardápio muda;

Ah...
Que venha o fim de semana!

Faustão? Me faz um favor? Vai tomar no ... !!