23.8.07

Ele vai estar na 3a Fliporto em setembro

Fio de vida
Thiago de Mello

Já fiz mais do que podia
Nem sei como foi que fiz.
Muita vez nem quis a vida
a vida foi quem me quis.

Para me ter como servo?
Para acender um tição
na frágua da indiferença?
Para abrir um coração
no fosso da inteligência?

Não sei, nunca vou saber.
Sei que de tanto me ter,
acabei amando a vida.


Vida que anda por um fio,
diz quem sabe. Pode andar,
contanto (vida é milagre)
que bem cumprido o meu fio.

10.8.07

Pai descendo no paraíso

Mesmo com todos os clichês imagináveis com a proximidade de uma data festiva, e mesmo não sendo muito afeito a escrever sobre temas pré-definidos, vou escrever sobre o dia dos pais e algumas reflexões que esse assunto traz.

Nesse domingo, caros seis leitores, será o meu primeiro dia dos pais com Dora. Quem acompanha esse humilde espaço virtual sabe o sufoco que passamos com ela, e sabe também de toda a força que recebemos dos nossos familiares e dos amigos. Não vou recontar aqui a história, pois, como diz o poeta; águas passadas não movem moinhos. Quem está por fora, e quiser se inteirar pode ler os postes anteriores.

A data é apenas uma convenção - convenhamos - como todos sabem. Mas a chegada desse dia suscita sentimentos que praticamos (ou que pelo menos deveríamos praticar) no dia-a-dia. Aquela alegria de ver seu filho(a) se desenvolvendo, com saúde, aprendendo diariamente pequenas coisas e nos ensinado outras tantas. Essas enormes, penso.

Aquela alegria que somente quem é pai conhece. E digo isso sem titubear. E sem medo dos clichês, esses monstros que já não me assustam mais. Depois que você se torna pai, aprende que essas bobagens são fruto de sua imaginação; às vezes nem tão fértil.

A natureza também foi generosa com nós, os pais. Ser pai é não saber o que é carregar um filho nove meses na barriga, e ainda assim amá-lo como se tivesse passado por essa experiência, que eu creio, ser única no mundo. Ser pai é não ter como amamentar um filho, mas mesmo assim querer alimentá-lo à todo custo. Ser pai é não poder tirar licença do trabalho por quatro meses, e mesmo assim dar um jeito de não sair de perto da cria.

Esse domingo tem um gosto diferente. Tem um gosto de início de vida, de festejos, das tão surradas tradições, essas que temos esquecido ao longo do tempo e que servem tão somente para reunir as pessoas queridas. Penso em meu pai. Que um dia foi somente filho, e que hoje é filho, pai e avô. Aí penso nos meus avôs que um dia foram filhos e foram pais e depois...

Esse domingo tem um saboroso gosto de continuidade...

E ainda dizem que agosto é o mês do desgosto.



Dedico, com carinho, esse texto a Daniel, pai de Pedro de cinco anos, a Lucas, pai de Raoni de cinco meses e a Flávio, pai de João Guilherme que nasce no próximo mês.

4.8.07

Cinco autores para se ler na primavera

No início da noite deste sábado, durante o banho, vieram-me umas idéias insistentes de elencar cinco autores/livros para se ler nesse início de primavera que vem surgindo aos poucos. Hoje à tarde fomos ao aniversário de minha prima, em Aldeia. Um encontro muito agradável com amigos e parentes queridos, que faz relaxar um pouco a mente e deixa as idéias fluírem mais tranqüilas. Notei como a chuva já cede espaço ao sol, ambos dividiam em partes iguais a “atenção” das pequenas plantas e árvores. A primavera é isso, penso, deixar o coração se dividir entre a esperança de dias luminosos e as incertezas enevoadas da alma.

Segue a lista. Fico feliz se alguém tiver tempo para saborear essas obras. E descobrir mais sobre esses autores que me são tão caros. Não coloco por ordem de preferência, nem alfabética e nem ordem alguma. Apenas um após o outro, assim, assim, mesmo.

- Alejo Carpentier

Escritor cubano nascido no ano de 1904, em Havana, um ano antes da independência do país. Filho de um arquiteto francês e de uma professora de línguas, de origem russa, chegando a Cuba dois anos antes do seu nascimento. O livro dele que indico é O século das luzes, uma análise minuciosa do surgimento dos ideais de liberdade em nosso continente americano, e ao mesmo tempo uma novela histórica, onde ele tenta nos mostrar uma vasta síntese da experiência americana, um dos grandes romances hispano-americanos.

- Ítalo Calvino

O escritor italiano Ítalo Calvino não nasceu na Itália, mas em Santiago de Las Vegas, Cuba, a 15 de outubro 1923, onde seus pais estavam de passagem. O livro dele que indico é Cidades Invisíveis, publicado em 1972, na história o veneziano Marco Pólo conta ao conquistador Kublai Khan todas as viagens que já havia feito. O livro é um desdobrar de territórios e uma viagem pelo reino da linguagem. Mostra a qualidade de um trabalho extremamente depurado que forma, ao final, uma metrópole atemporal e superpovoada de sentidos.

Calvino mostra em Cidades Invisíveis um império sem fim e sem forma, um domínio que se destrói e se reconstrói. São lugares que abrem, se bifurcam e nunca são iguais. Anastirma, Diomira, Dorotéia, Isaura, Maurília, Zaíra, Zenóbia e outras tantas. Suas praças, ruas, vielas, pessoas gostos e cheiros que não podem ser representados totalmente no papel, ou na voz de Marco Pólo, o eterno estrangeiro.

- Thomas Mann

Thomas Mann nasceu em 1875, em Lübeck (Alemanha), filho de um rico burguês alemão e de uma brasileira. Após a morte de seu pai, em 1891, mudou-se para Munique. Em 1924, Mann publicou A montanha mágica, livro que estou lendo atualmente e também indico. Ela compara, na obra, o mundo, especialmente a Europa pós Primeira Guerra Mundial, a um sanatório de tuberculosos. Uma leitura extremamente agradável e fácil. Um livro que nos transporta a uma realidade espantosamente próxima, quando nos colocamos no lugar da personagem Hans Castorp.

- José Saramago

Entre tantos livros bons deste autor português nascido na aldeia de Azinhaga na região de Ribantejo, indico o livro Todos os Nomes, uma impressionante história de um modesto escriturário da Conservadoria Geral do Registo Civil, o Sr. José, cujo hobby é colecionar recortes de jornal sobre pessoas famosas. Um dia sua curiosidade acabará se concentrando num recorte que o acaso põe diante dele - a mulher focalizada ali não é célebre, mas o escriturário desejará conhecê-la a todo custo. Abandonando seus hábitos de retidão, ele comete pequenos delitos para alcançar o que deseja. Pequenas mentiras que darão à vida uma intensidade desconhecida.

- Mario Vargas Llosa

Jorge Mario Pedro Vargas Llosa nasceu em Arequipa (Peru), em 1936. Passou a infância na Bolívia. Em 1981, publicou o romance A Guerra do Fim do Mundo, no qual narra a história da Guerra de Canudos e onde aparece um extraordinário personagem: Galileu Gall, anarquista escocês, especialista em frenologia, ciência hoje esquecida, que estuda a associação entre a anatomia do crânio e a personalidade. O livro me consumiu por dois meses. São mais de 700 páginas, mas que parecem 150. Quando você começa a ler o tijolinho não dá mais vontade de parar. Fantástica obra que mostra um Antônio Conselheiro humanizado pelo binômio fé - terra prometida.

É isso caros seis leitores. Anotem e procurem esses livros e seus autores. Vale muito a pena. Pois como disse Pessoa, “tudo vale a pena se a alma não é pequena”.