25.7.07

Pérolas aos poucos

Coloco aqui um trecho de "Pérolas aos poucos" publicada na Revista Piauí de julho. A matéria fala sobre um experimento feito pelo Washington Post: colocar um dos maiores músicos do mundo para tocar violino em uma estação de metrô. Quem tiver interesse em ler o texto completo, segue o endereço http://www.revistapiaui.com.br/. Ela está na coluna vida urbana. Vale muito a pena! O autor é o jornalista Gene Weingarten.

[...] Ave Maria de Schubert, que surpreendeu alguns críticos quando estreou em 1825: Schubert raramente manifestava algum sentimento religioso nas suas composições, mas ainda assim a Ave Maria é uma admirável obra de adoração à Virgem Maria. Esta prece musical tornou-se uma das peças religiosas mais conhecidas e duradouras de toda a história. Poucos minutos depois de começada, ocorre um fato revelador. Uma mulher emerge da escada rolante junto com seu filho em idade pré-escolar.

A mulher caminha apressada e, portanto, o menino também. Ela o puxa pela mão. “Eu estava muito atrasada”, lembra Sheron Parker, diretora de informática de uma repartição federal. “Tinha uma aula de treinamento às oito e meia, e antes precisava entregar Evan para a professora, depois correr de volta para o trabalho.”

Evan é seu filho e tem 3 anos. Evan aparece claramente no vídeo. É o lindo menino negro de parka que fica virando a cabeça tentando olhar para Joshua Bell enquanto é puxado na direção da porta. “Havia um músico”, lembra Sheron Parker, “e o meu filho ficou intrigado. Ele queria parar para ouvir, mas eu estava sem tempo.” E assim, ela faz o que precisa. Interpõe seu corpo entre Evan e Bell, cortando a visão do seu filho. Quando estão saindo da galeria, ainda dá para ver Evan torcendo o pescoço para tentar enxergar.

O poeta Billy Collins certa vez observou com humor que todos os bebês nascem conhecendo poesia, porque a batida do coração da mãe forma um iambo. E então, disse Collins, a vida começa a sufocar aos poucos a poesia que havia em nós. O que também pode se aplicar à música.

Não há um padrão étnico ou demográfico que possa diferenciar as pessoas que ficaram para ouvir Bell, ou as que deram dinheiro, da vasta maioria que seguiu o seu caminho apressado, sem tomar conhecimento do músico. Há brancos, negros e asiáticos, jovens e velhos, homens e mulheres, representados nos três grupos. Só existe um grupo demográfico cujo comportamento foi sempre consistente. Toda vez que uma criança passava, tentava parar para assistir. E, toda vez, o pai ou a mãe não deixava. [...]

4 Comments:

Blogger Rossana said...

É intrigante... e triste... saber que vamos perdendo a poesia... e a capacidade de nos espantarmos e nos entusiasmarmos com as coisas quando vamos envelhecendo... envelhcendo no "espírito", não na idade necessariamente... viveríamos melhor se conservassemos essa capacidade...

bjs

11:18 AM  
Anonymous Anônimo said...

Tá vendo só?
Quando o cara é infantil a galera chama de "Mazela", "Donzelo" ou simplesmente "Tabacudo"... aí o cara tem que forçar o crescimento e "emburrecer" com o resto do povo!
Se é assim, pode me chamar de tabacudo, donzelo, menino... och... tem bronca não! Tá tudo doido nesse mundo por conta disso. Deixem as crianças dizer, ver, escolher o querem. E bora para com essa estória de "Deixa de ser tabacudo menino!"
Salvem os sentimentos primais!!!

5:09 PM  
Anonymous Anônimo said...

Nossa... matei a gramática no texto acima!!!
Perdão, foi a força da instigação!!!
Ou então... crescí demais!!!

5:11 PM  
Blogger Tiago Nobel said...

Poiszé pompi, lutemos para que essa capacidade de "enxergar" o que é bonito não seja sufocada jamais...

abração e valeu pela instigação!

8:13 AM  

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