12.2.09

A Escada

Por uma dessas travessuras do cotidiano, deixei minha filha na escolinha dela e na volta peguei outro caminho, diferente do que faço todos os dias. Acabei passando bem na frente da minha primeira escola. Verdade que foi rápido, de dentro do carro, mas por sorte (?) a rua estava engarrafada, coisa rara em Recife (?).

Fiquei parado por três minutos, tempo suficiente para voltar 20 anos no tempo e relembrar as brincadeiras, as aulas de arte, os banhos de mangueira. Na minha lembrança a escola era enorme. No trajeto do portão até a sala de aula existia uma escada, que dava para a sala de artes. Eu andava muito, era distante esse trajeto na minha infância; essa coisa que tiram da gente ou a gente perde aos poucos, se não tomarmos cuidado.

Lá estudei do maternalzinho a alfabetização. Umas das épocas mais importantes da minha vida, quando aprendi a ler e escrever; essa coisa que levo comigo para sempre. Que ninguém conseguirá tirar de mim.

Olhei a escada, meu deus!, como ela fica perto do porão. Será que o trajeto encolheu? Ou foram as minhas lembranças que cresceram junto comigo? Desconfio que a percepção que temos das coisas quando somos criança perdem o sentido-físico e o espaço-físico para outras coisas, que descobrimos no futuro são menos importantes, mas nós não percebemos, teimando em colocá-las em primeiro plano.

Bateu aquela saudade de ser criança no sentido "dicionárico" da palavra. De ficar sentado no chão de areia, durante o recreio, construindo castelos e criando estórias fantástica. Saudade das atividades na sala de artes. Música, pintura, argila, uma catárse sem fim. Um verdadeiro mergulho ao contrário, quanto mais mergulhava naquele mundo, naqueles momentos, mas próximo da superfície me sentia. Um lugar onde se consegue subir à tona e respirar.

Feliz daqueles que entre o portão da escola e a sala de aula, tiveram a sorte de encontrar uma escada bem no meio do caminho.