4.8.07

Cinco autores para se ler na primavera

No início da noite deste sábado, durante o banho, vieram-me umas idéias insistentes de elencar cinco autores/livros para se ler nesse início de primavera que vem surgindo aos poucos. Hoje à tarde fomos ao aniversário de minha prima, em Aldeia. Um encontro muito agradável com amigos e parentes queridos, que faz relaxar um pouco a mente e deixa as idéias fluírem mais tranqüilas. Notei como a chuva já cede espaço ao sol, ambos dividiam em partes iguais a “atenção” das pequenas plantas e árvores. A primavera é isso, penso, deixar o coração se dividir entre a esperança de dias luminosos e as incertezas enevoadas da alma.

Segue a lista. Fico feliz se alguém tiver tempo para saborear essas obras. E descobrir mais sobre esses autores que me são tão caros. Não coloco por ordem de preferência, nem alfabética e nem ordem alguma. Apenas um após o outro, assim, assim, mesmo.

- Alejo Carpentier

Escritor cubano nascido no ano de 1904, em Havana, um ano antes da independência do país. Filho de um arquiteto francês e de uma professora de línguas, de origem russa, chegando a Cuba dois anos antes do seu nascimento. O livro dele que indico é O século das luzes, uma análise minuciosa do surgimento dos ideais de liberdade em nosso continente americano, e ao mesmo tempo uma novela histórica, onde ele tenta nos mostrar uma vasta síntese da experiência americana, um dos grandes romances hispano-americanos.

- Ítalo Calvino

O escritor italiano Ítalo Calvino não nasceu na Itália, mas em Santiago de Las Vegas, Cuba, a 15 de outubro 1923, onde seus pais estavam de passagem. O livro dele que indico é Cidades Invisíveis, publicado em 1972, na história o veneziano Marco Pólo conta ao conquistador Kublai Khan todas as viagens que já havia feito. O livro é um desdobrar de territórios e uma viagem pelo reino da linguagem. Mostra a qualidade de um trabalho extremamente depurado que forma, ao final, uma metrópole atemporal e superpovoada de sentidos.

Calvino mostra em Cidades Invisíveis um império sem fim e sem forma, um domínio que se destrói e se reconstrói. São lugares que abrem, se bifurcam e nunca são iguais. Anastirma, Diomira, Dorotéia, Isaura, Maurília, Zaíra, Zenóbia e outras tantas. Suas praças, ruas, vielas, pessoas gostos e cheiros que não podem ser representados totalmente no papel, ou na voz de Marco Pólo, o eterno estrangeiro.

- Thomas Mann

Thomas Mann nasceu em 1875, em Lübeck (Alemanha), filho de um rico burguês alemão e de uma brasileira. Após a morte de seu pai, em 1891, mudou-se para Munique. Em 1924, Mann publicou A montanha mágica, livro que estou lendo atualmente e também indico. Ela compara, na obra, o mundo, especialmente a Europa pós Primeira Guerra Mundial, a um sanatório de tuberculosos. Uma leitura extremamente agradável e fácil. Um livro que nos transporta a uma realidade espantosamente próxima, quando nos colocamos no lugar da personagem Hans Castorp.

- José Saramago

Entre tantos livros bons deste autor português nascido na aldeia de Azinhaga na região de Ribantejo, indico o livro Todos os Nomes, uma impressionante história de um modesto escriturário da Conservadoria Geral do Registo Civil, o Sr. José, cujo hobby é colecionar recortes de jornal sobre pessoas famosas. Um dia sua curiosidade acabará se concentrando num recorte que o acaso põe diante dele - a mulher focalizada ali não é célebre, mas o escriturário desejará conhecê-la a todo custo. Abandonando seus hábitos de retidão, ele comete pequenos delitos para alcançar o que deseja. Pequenas mentiras que darão à vida uma intensidade desconhecida.

- Mario Vargas Llosa

Jorge Mario Pedro Vargas Llosa nasceu em Arequipa (Peru), em 1936. Passou a infância na Bolívia. Em 1981, publicou o romance A Guerra do Fim do Mundo, no qual narra a história da Guerra de Canudos e onde aparece um extraordinário personagem: Galileu Gall, anarquista escocês, especialista em frenologia, ciência hoje esquecida, que estuda a associação entre a anatomia do crânio e a personalidade. O livro me consumiu por dois meses. São mais de 700 páginas, mas que parecem 150. Quando você começa a ler o tijolinho não dá mais vontade de parar. Fantástica obra que mostra um Antônio Conselheiro humanizado pelo binômio fé - terra prometida.

É isso caros seis leitores. Anotem e procurem esses livros e seus autores. Vale muito a pena. Pois como disse Pessoa, “tudo vale a pena se a alma não é pequena”.