31.7.06

Dos vizinhos e outras vivências

Hoje a tarde, por volta das cinco horas peguei o elevador com uma pessoa estranha, fazia tempo que eu não entrava no elevador junto com alguém que eu nunca tinha visto. Descobrir que se tratava de uma vizinha, do primeiro andar, que deve ter se mudado há uns quatro meses, talvez cinco. Ela ficou visivelmente incomodada. Acho que ela gosta de andar sozinha em elevadores.

Assim que ela desceu falando em voz alta, meio que se justificando por estar mexendo em sua bolsa, para não me fitar, me veio uma reflexão e várias lembranças... Lembranças da época que realmente tinhamos vizinhos, aqueles que moravam nas casas ao lado. Que emprestavam algum eletrodoméstico. Aqueles com os quais trocavamos bom-dias e até-logos.

Perdemos essa convivência, sorte de quem ainda a tem. Que pode pedir socorro literamente em momentos de dificuldade (foi meu caso, quando cortei a mão pulando um muro e o casal de vizinhos do lado esquerdo prontamente me ajudou). Quando entrei em casa, sentei na sala e parei um pouco para pensar nesse assunto. Me dei conta de como nem ligamos mais para isso, nem percebemos da importância que essas coisas tem em nossas vidas.

Apenas nos trancamos, cada um em seus apartamentos, com seus olhos-mágicos-que-não-conseguem-enxergar-mais-que-o-corredor, e achamos tudo normal. Deu uma saudade tremenda da Rua Vicente Ferreira, na torre, onde morei durante 11 anos. Por acaso, passei por ela esta semana e vi que um lado da rua está todo tomado pelos prédios. Os antigos vizinhos, já não moram mais lá. Se foram. Talvez em busca de um local onde ainda possam ser realmente vizinhos uns dos outros.

5 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Oi Tiago. Muito bom ler esse seu texto. Estou morando no interior novamente. O jardim daqui de casa é colado com a área da casa vizinha através de uns pergolados. Precisando de alguma coisa é só dar um grito. Semana passada a dona da casa me emprestou um espelho e uma pinça de sombrancleha(risos). Hoje mesmo jantei na casa de uma outra vizinha de muito tempo. Aqui é assim: uma mão lavando a outra, sempre. Adorei sua reflexão. Um abraço carinhoso, Raquel

7:37 PM  
Blogger Gio said...

Pois sim, meu nobre. Creio que se mudaram para um lugar no qual estão passando pela mesma privação. É triste, mas eu lembro, inclusive, que ganhei um concurso de redação no colégio falando sobre o tal "clima de elevador".
O constrangimento é maior apenas quando encontramos um vizinho bêbado no elevador...

10:41 PM  
Anonymous Anônimo said...

Meu Caro,
quando Vitrúvio criou o elevador na Roma do século I, não o fez pensando nas relações interpessoais. Para ele, constituia apenas um meio de transporte vertical para cargas (inclui-se pessoas), um dos mais seguros do mundo, isso sim, a não ser que algum distraido não verifique, ao abrir a porta, a presença do mesmo.
A grande questão é que elevador é mesmo constrangedor. E ainda mais se for desses com a combinação fatal de câmeras de segurança e espelho. Pronto... tá garantida a diversão dos porteiros. E existe toda uma moral social "elevatória" extremamente artificial. Aquele Bom Dia forçado, aquele comportamento duro e silencioso, loucos pra que chegue seu andar, abrir a porta e soltar a respiração. Ufa!
Saiba... vizinhos de elevador nunca vão conhecer seus altos e baixos. Os verdadeiros vizinhos são os do coração. Ali, bem pertinho. Aquele que vai bater na porta pra pedir não apenas sal, mas um aconchego. Faz-se logo um puxadinho. Eita pá furada... Sobe ou desce???

4:57 PM  
Blogger Rodrigo Barros said...

Sempre preferi às escadas...
Mais saudável e não te deixa parado, constrangido e sem assunto.

3:39 AM  
Blogger cometaurbano said...

Tiago, o seu texto resgata as coisas mínimas do cotidiano. Muito bom. Um abraço, Paulo

1:00 AM  

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