8.8.06

Fuxico *

Ontem fui caminhar na beira-rio. Ok, sou liso e não gosto de academia, mas constatei uma coisa no mínimo curiosa. Tive uma forte sensação de que as pessoas ali caminhando, correndo, se alongando, fazendo sei lá mais o quê, não estava ali porque querem perder peso, ou cuidar da saúde, ou ainda ficar lindos e esbeltos.

Não sei explicar direito o que estou dizendo, mas parece que todos estavam ali em busca de algo que não consegui definir. Algo maior do que a estética ou a beleza exterior. Quem sabe futuramente venho em outro texto explicar isso que afirmo agora...

Dia desses li uma bela crônica de Samarone Lima que talvez esclareça um pouco o que estou falando. Para quem não sabe, ou não percebeu ainda, sou um admirador dos textos dele. E Sama é um grande anotador das coisas mínimas - as preciosas.

No texto ele contava a história de uma visita que fez ao cemitério em Fortaleza -CE, e sobre as flores depositadas em memória dos que já se foram serem de plástico. No meio do texto ele escreveu "isso" aqui: "Resistem às chuvas, não morrem nunca, o cemitério fica todo coloridinho, mas não gostei nada. No final das contas, são de plástico, não fenecem, não têm a grandeza do precário, não vêm com o cheiro de tantas gerações de flores se perpetuando".

Meditei durante um bom tempo a parte que ele diz: ...não fenecem, não tem a grandeza do precário... Acho que somos nós. A humanidade. Não conseguimos jamais chegar perto dessa grandeza. A grandeza do que não se enxerga a olho nu. Das transformações, da ação, tão natural as leis e regras da natureza. E nós tentamos durante séculos (ainda continuamos a tentativa) se desvencilhar dessa magnitude simples.

Samarone encerrou a crônica disparando essa pérola que me comoveu muito, ultimamente tenho me comovido bastante com as pequenas belezas da vida. Segue o trecho em questão: "Tenho certeza que minha avó preferiria flores de verdade. No domingo levarei umas, na base do contrabando mesmo.Vai ser ótimo. Eu sempre quis ser um contrabandista de flores".

Foi isso que percebi nas pessoas que caminhavam na beira-rio. Cada um pareci um contrabandista. Só não sei do que. Acho que caba apenas a cada um descobrir o que quer contrabandear nesse mundão-tão-grande-de-meus-deus-dará .

* Fuxico é um técnica de corte e costura com mais de 150 anos de existência que recicla materiais e criar peças de decoração e de moda a custo zero. Para fazer bastam retalhos, linha, um molde redondo, agulha, tesoura e criatividade.

3 Comments:

Blogger Rodrigo Barros said...

Esse é o Tiago prosaico que conheço!
Quanto a mim...acho que estou contrabandeando o ócio! ¬¬

5:31 PM  
Anonymous Anônimo said...

ENCONTREIO-O NO BLOG DE SAMARONE, QUE SABE APENAS QUE SOU MÃE DE UMA EX-ALUNA DELE E QUE ESTOU SEMPRE LENDO SUAS COISITAS E REPASSANDO-AS PARA FILHOTA QUE AGORA JÁ NÃO TEM TANTO TEMPO, E NÃO É QUE FIQUEI SUA FÃ ?

6:05 PM  
Anonymous Anônimo said...

Meu caro,

vou fuxicar... E não pense em se tratar da ação na arte do corte e costura. Simplesmente o denunciarei, mesmo sabendo ser eticamente incorreto, a padres e profissionais do psique, relatar ao público as confissões alheias. E justifico meu ato em nome da descência humana, bem como por se tratar de um caso peculiar contra a moral e os costumes das relações pessoais.
Soube que estás a contrabandear beijos. Digo-lhe que é crime gravíssimo, antes que seja tarde demais. A vítima nem espera o que aguarda. Começa com um singelo beijo de segundos na testa, mas quando cai em si, está consumindo doses pesadíssimas de carinho. Já tratei muitos pacientes com tal patologia, e sei o quanto é complexo o processo. Desintoxicação do coração, abstinencia emocional e carnal, etc. Saia dessa o quanto antes. E olhe que estou a falar não como analista, mas como amigo. Flores e beijos fenecem, isso sim, na alma, corpo e mente do homem. E juntos tornam-se mais perigosos ainda. Corrompem e subvertem qualquer sujeito. Eita pá furada...

2:01 PM  

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