10.8.06

A Onça Caetana

Por favor, se você chegou até aqui leia o texto até o fim. Porque ele é parte de mim, e de uma reflexão que quero fazer com todos que aqui chegaram. O texto é interneticamente um pouco extenso. Mas não desista, a vida é extensa também. Obrigado por seguir por aqui!

Se você der uma olhada nos outros textos, esses que estão ali um pouco abaixo, irá perceber que não gosto muito de temas soturno. Mas não teve jeito. Após as dezenas de imagens que presenciei hoje, no meu local de trabalho, preciso dividir com os caros cinco leitores que se detém nessas mal tecladas linhas. Hoje vou falar sobre a morte. Não aquela coisa de filme e etc. Não aquela coisa do além, sem explicação e cheia de penduricalhos que a acompanham neste e em outros mundos.

Para quem ainda não sabe eu trabalho em dois grandes hospitais do estado de Pernambuco. Que ironicamente levam o nome de dois famosos políticos. Um a nível nacional e outro estadual. Getúlio e Agamenon. Enfim, narizes de cera a parte, voi entrar nas imagens e reflexões que hoje vieram ao meu encontro. Farei apenas um recorte. Não quero aprofundar nos fatos, e nem aumentar o drama para elevar a audiência deste blog (ao contrário de muitos autores de novela).

O número de mortes que ocorreram hoje pela manhã foi maior que o normal. Constatei isso pelo grande movimento de carros de funerárias no necrotério e dado também o volume de parentes, desconsolados, chorando pelos cantos. Uma imagem de um mulher, aparentando uns 55 anos foi que me chamou mais atenção. Ela estava em um canto, chorando baixinho, quase inaudível.

Parecia sozinha, sem ninguém lhe dando atenção. Eu fiquei de longe, observando-a, e torcendo para que ela não me notasse. Queria ficar invisível perante esse momento. Não entendam, porém, dignissímos cinco leitores, invisível como uma metáfora para fugir daquilo, daquela sensação. Não! Digo invisível para poder passar por observador em primeira pessoa. Longe dos dramas e pensamentos que nos aflingem, nós podres mortais. Vamos ao recorte:

Cabelos presos. Banquinho de madeira. Sem encosto. Costas apoiadas na parede, forrada de azulejos brancos. Encardidamente brancos. Choro. Um choro copioso. Desprovido de qualquer bloqueio ou convenção social. Porque pra morte não existe convenção alguma. Saudade estampada no semblante. Saudade apenas. Simplicidade escrita no jeito, no gesto, na solidão. Simples como é nascer. Simplesmente se morre.

Quero apenas refletir e levar vocês a reflexão sobre esse fato, que muitos nem pensam, não gostam de pensar, tem medo. Reflitam meus diletos cinco leitos. Pensem em dizer e fazer o que gostam e que precisam. Mas não com desespero ou sofreguidão como se fossemos encontrar a onça caetana na próxima esquina. Façam com amor, com dedicação e com afeto. Porque o resto é apenas saudade.

Como diria sabiamente o mestre Ariano Suassuna: "...eis a única coisa que une tudo quanto é vivente em um só rebanho. Porque tudo que é vivo, morre".

9 Comments:

Blogger mariaestalonge said...

Poxa, me emocionei lendo teu texto. Incrivel foi que sonhei contigo a alguns dias atrás, na verdade com a tua morte. Mas nao se preocupa nao, que já sonhei com uma duzia de pessoas morrendo e elas ainda estao por aqui. Já sonhei duas vezes com pessoas chorando e em poucos dias pessoas queridas delas morreram. Choro, morte, medo, segredo
....Texto lindo.

2:12 PM  
Anonymous Anônimo said...

QUE BOM!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
AGORA ALÉM DOS TEXTOS DE SAMARONE, TENHO TAMBÉM OS SEUS PARA ME DELICIAR

5:41 PM  
Anonymous Anônimo said...

Ai de nós se não fossem om momentos de mortes.

Abraços Tiago

6:19 PM  
Anonymous Anônimo said...

poxa Ti... a morte anda me intrigando tanto nos últimos tempos.. boa parte da minha ansiedade é porque ando pensando muito nela. e hoje, coincidentemente, sonhei que Caris morria. terrível... saudade é um dos piores sentimentos...

beijos amigo.

Loló.

12:25 AM  
Blogger Rodrigo Barros said...

Faltava o quinto leitor...EU!
O texto é triste, a vida também e a mrote talvez.
Digo que a vida é triste porque somos jogados no mundo, conhecemos pessoas, convivemos com elas por um tempo e quando menos esperamos, desaparecemos tão rápida e inexplicavelmente quanto surgimos!
Não existe céu ou inferno, existe o aqui e agora! Façamos bem feito então, porque depois disso tudo se repete! O sentido da vida é estar fadado a vivê-la eternamente.
Enfim...o Onça Caetana é triste assim como a vida! É meio estranho te dar os parabéns, meio hipócrita, afinal acho que não é isso que tu espera de retorno ao escrever um texto assim...

Te cuida véio! É um prazer te conhecer!
Abração!

3:14 AM  
Blogger Gio said...

Poxa...
Pelo menos na ordem desses comentários, virei o sexto leitor, o esquecido.
Mas não tem nada, Tiago. Mais dia, menos dia, te pego na rua! kkkkkkkkkk

-Jóia o texto, malandro! Grande abraço.

9:38 AM  
Blogger Ricardo Silva said...

COLEI SEU ÓTIMO TEXTO EM MEU BLOG,NINGUÉM VAI LÁ, MAS FOI INCONTROLÁVEL A VONTADE DE FAZÊ-LO.
MEU BLOG TEM ALGUMAS FOTOS DE MINHA AUTORIA, MAS NO GERAL É ONDE EU PONHO O QUE GOSTO DE LER,OUVIR,VER E SENTIR.
O ENDEREÇO É:http://ricorockingblogspot.blogspot.com/

11:18 AM  
Blogger Unknown said...

olá... estava buscando a onça caetana, e cai aqui. Depois de 10 anos do seu texto, ele me tocou. Sou um dos cinco leitores, prazer.
parabéns pelo jeitinho de juntar tuas letras em palavras e frases que marcam.

Esther

6:51 PM  
Anonymous Tiago Nobel said...

Obrigado, Esther! :)

9:56 AM  

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