Desarmamento
Quisera eu escrever um poema Uma divagação, um desabafo, num bloquinho-de-nota-real, Com caneta bic, que é a que melhor escreve Mas me lembrei que nunca saio de casa armado. Alguns grandes amigos meus me ensinam o valor De poder colocar em um pedaço de celulose qualquer, Em um guardanapo semi-seco, na palma da mão As entranhadas linhas de meu estômago elástico. Observando o desmanchar, o manchar, o desmanchar, o manchar Da vida, em gotas, em formas, em gotas, em formas, Pretas talvez, azuis quase, vermelhas quem sabe, improbábeis verdeados. Que seguem formando letras, palavras, frase, parágrafos, orações inteiras Sem ave-marias ou aí meu deus me acuda. Apenas sentimentos que não se colhem, apenas se plantam. Me lembro então de algo que Mario Quintana escreveu. Ele não foi imortalizado, "foi, não foi, foi, não foi". Não chega a ser Um parágrafo, mas, sem dúvida é uma oração Que oxalá meu pai salva aqueles ali que acabaram de atravessar o curso do leito da margem do rio perene transformação: "Eles passarão. Eu passarinho". Sigo agora mas calmo, com menos aflição e querendo andar armado. Pra assassinar os "aís" dessa vida. Mato com a tinta da caneta bic, Em qualquer papel que me apareça razoavelmente desarmado . |
3 Comments:
Me lembrei de um verso de Fernando Anitelli...acho que ele conhece Mario Quintana
"Muitos passarão
Outros tantos passarinho"
É um trecho de uma música chamada "A Fé Solúvel" do Teatro Mágico...vale a pena conhecer!
Muito bom!
Pois sim... Maravilha!
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