21.8.06

Desarmamento

Quisera eu escrever um poema
Uma divagação, um desabafo, num bloquinho-de-nota-real,
Com caneta bic, que é a que melhor escreve
Mas me lembrei que nunca saio de casa armado.

Alguns grandes amigos meus me ensinam o valor
De poder colocar em um pedaço de celulose qualquer,
Em um guardanapo semi-seco, na palma da mão
As entranhadas linhas de meu estômago elástico.

Observando o desmanchar, o manchar, o desmanchar, o manchar
Da vida, em gotas, em formas, em gotas, em formas,
Pretas talvez, azuis quase, vermelhas quem sabe, improbábeis verdeados.
Que seguem formando letras, palavras, frase, parágrafos, orações inteiras
Sem ave-marias ou aí meu deus me acuda.
Apenas sentimentos que não se colhem, apenas se plantam.

Me lembro então de algo que Mario Quintana escreveu.
Ele não foi imortalizado, "foi, não foi, foi, não foi".

Não chega a ser
Um parágrafo, mas, sem dúvida é uma oração
Que oxalá meu pai salva aqueles ali que acabaram de atravessar o curso do leito da margem do rio perene transformação:

"Eles passarão. Eu passarinho".

Sigo agora mas calmo, com menos aflição e querendo andar armado.
Pra assassinar os "aís" dessa vida.
Mato com a tinta da caneta bic,
Em qualquer papel que me apareça razoavelmente desarmado .

3 Comments:

Blogger Rodrigo Barros said...

Me lembrei de um verso de Fernando Anitelli...acho que ele conhece Mario Quintana

"Muitos passarão
Outros tantos passarinho"

É um trecho de uma música chamada "A Fé Solúvel" do Teatro Mágico...vale a pena conhecer!

1:07 AM  
Anonymous Anônimo said...

Muito bom!

12:49 PM  
Blogger Gio said...

Pois sim... Maravilha!

7:47 PM  

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