21.11.06

Neuronha - O retorno!!!

Extra! Extra! Notícia mais quente que furico de foca!

Finalmente!!! O polêmico vídeo NEURONHA será exibido em um cinema de grande porte em nossa cidade!!!

Contra todos os prognósticos que davam vida curta ao vídeo-documentário NEURONHA, o petardo foi selecionado para passar no Teatro do Parque. Ele irá concorrer na categoria documentário no oitavo festival de vídeo de pernambuco! Como diria minha prima renata duarte, né pouca merda não, é penico cheio! Sem contar que estamos concorrendo com os caras da telephone colorido, o que para mim é uma honra e penso que para daniel também.

O sentimento é algo similar a um músico que concorre na categoria melhor música juntamente com Wander Wildner...

O vídeo mostra depoimentos e histórias de moradores da ilha mais famosa do Brasil (Fernando de Noronha), que sofrem com a "neuronha", uma espécie de banzo, saudade da terra firme.

Tive a sorte de ser assistente de direção, roteirista e produtor, junto com meu amigo daniel barros (Mais um Domingo), que além dessas funções exerceu também a direção e a edição, junto com sua companheira andrezza.

Estou muito feliz também por nosso amigo neco de polyana monstra que emplacou dois clipes da Mundo Livre S/A, nos quais ele também foi assistente de direção!! Os clipes são CARNAVAL INESQUECÍVEL NA CIDADE ALTA, e LAURA BUSH TEM UM SENHOR PROBLEMA, imperdíveis!!

É esperar pra ver! E comparecer nos dias das exibições do vídeo e dos clipes, que ainda serão definido.

Veja abaixo um trecho da matéria sobre o festival...

VIII FESTIVAL DE VÍDEO DE PERNAMBUCO
Mostra Competitiva

Após 10 dias de análises, a Comissão de Seleção do VIII Festival de Vídeo de Pernambuco 2006 divulgou os vídeos escolhidos para comporem a Mostra Competitiva nos próximos dias 04, 05 e 06 de dezembro no Cinema do Parque, em sessão única marcada diariamente de segunda a quarta para as 19 horas, com entrada franca.

Acompanhe abaixo a lista dos vídeos classificados e seus respectivos diretores, que este ano poderão apresentar os seus trabalhos antes de cada exibição, em mais uma novidade do festival, cuja exibição será em formato DVD.

DOCUMENTÁRIO
A Árvore Sagrada, de Cléa Lúcia

1964: Encontro com a Memória, de Marcelo Santos, Michel Bamps e Raphaella Vieira

NEURONHA, de Daniel Barros

Quando a Maré Encher, de Oscar Malta

15 Centavos, de Marcelo Pedroso

PE na França, de Ricardo Mello

Truká Entre Crocodilos e Leões, realização conjunta de Telephone Colorido, CIMI NE e Povo Truká

VIDEO CLIPE
CARNAVAL INESQUECÍVEL NA CIDADE ALTA, de Pedro Severien

LAURA BUSH TEM UM SENHOR PROBLEMA, de Pedro Severien

Paulo André Não Me Ouve, de Danielle Valentim

Pé na Estrada, de Anabele Silva e Natália Lopes

Rap’n Blues, de Jéferson Luiz

Reverbera na Caverna, de Zeca Viana

Tentando e Conseguindo, de Gustavo de Melo


OUTRAS INFORMAÇÕES: www.recife.pe.gov.br

PS: "A pressa é inimiga da digitação"

10.11.06

Um pouco de ternura

Coloco aqui - para o fim de semana ser mais leve - um texto retirado do site releituras.

Vale a pena dar uma visitada lá. O local está recheado de ótimos textos.

Aí ao lado direito tem o link.

É isso.

Bom fim de semana paratodos!


Um pouco de ternura
Baptista-Bastos

Nos olhos dela habitava a bondade. Um doce sorriso embalava-lhe os lábios, e a face transparecia a tranquilidade interior de quem não fora punida pelo despeito nem agredida pelo ressentimento. Era ainda nova: vivia na linha de sombra que tenuemente divide a idade das pessoas, entre maduras e velhas. De onde viera? Que idade tinha? Ninguém sabia. Por vezes, pintava os lábios murchos. Por vezes, exibia largos decotes e mangas cavadas, eis o traço lascivo dos seios, eis os braços roliços, opulentos e sensuais. Era alta, quase imponente; porém, quando subia a rua íngreme, parecia alada, os pés quase não tocavam no chão.

Aparecera no bairro e logo se organizara uma aura de mistério em sua volta. Apesar da estatura, mantinha-se discreta e reservada, pouco falava com os vizinhos. Havia dias em que cantava; cantava alto velhas canções de amor. Nas tardes de sábado, os homens reuniam-se no clube, jogavam ao loto e à sueca e, ocasionalmente, embebedavam-se.

Ela residia num pequeno apartamento, mesmo por cima do clube. Gostava de se colocar à varanda, e os homens fitavam-na, gulosos, ávidos e sôfregos. Fingia não os ver. As mulheres remoíam raivas e amuos. Ela observava o horizonte, lá, onde o Tejo forma uma laçada, e permanecia assim: abstracta, atenta e exposta. Mas gostava que a apreciassem, e divertia-se com o ciúme das outras. Às vezes dançava ao som de uma pequena telefonia. Dançava como se estivesse a dançar com o mundo, ou, quem sabe?, a pensar em alguém que amara.As geografias sentimentais são mais ou menos favoráveis: o bairro era bom e valia tudo o que de ele se dissesse; o resto era mau, e tudo o que de pior se dissesse nunca seria excessivo.

Começaram as intrigas, as suposições pérfidas, as calúnias evasivas. Não lhe perdoavam a beleza, a dignidade da postura, a pequena viração de altivez que dela se desprendia.Suspeitaram de tudo: que era prostituta, que vivia às custas de um proprietário de imóveis, que fazia números de nu em cabarés rascas. Chegou-lhe aos ouvidos a natureza insidiosa desses boatos. Não lhes atribuiu a menor importância, o que ainda mais arreliou as outras. Saía de casa logo pela manhã, regressava tarde, ocasionalmente ausentava-se pela noite. Acumulavam-se as suspeições. Até que, certo dia, deixou de aparecer. O falatório aumentou. Coisas medonhas foram ditas, como se de verdades se tratassem.

Correu o tempo; uma semana passou, outra, e outra ainda. Para onde fora? Que seria feito dela? E se ele não regressasse, não pudesse regressar ou não quisesse regressar?Depois, houve quem a visse. Era numa tarde em que a chuva, lamentosa, caía forte. Desapareceu no cotovelo da rua, quem a viu acelerou o passo para descortinar aonde ela ia. Entrou num prédio alto e antigo, de azulejos, e ao perseguidor assaltou a ideia de que a vizinha misteriosa talvez fosse mulher-a-dias. Este indivíduo tivera, em tempos, a veleidade de se relacionar com ela; porém, fora rejeitado com uma frase breve e ríspida. Era o ressentimento que o incitara àquela infausta perseguição.Horas e horas decorreram.

A chuva deixara de cair, o homem encostara-se a uma árvore, sem abandonar a vigilância ao prédio. Até que, finalmente, ela reapareceu. Olhou em derredor e, rapidamente, aproximou-se da árvore onde o outro se ocultava. Atrapalhou-se, o homem. E ela disse:— Quer saber o que eu faço, não é? — Bom…bom — Não sabia o que responder.— Olhe: vendo ternura.E desandou. Agora, uma brisa mansa, um vento acariciador, um pio de ave, e o silêncio. Era assim: todos os dias, ou quase, ela visitava casas de gente idosa, e recebia escassos euros para lhes ler jornais, revistas ou livros de histórias cordatas com finais felizes. Simplesmente um pouco de ternura.

Voltou à rua para se despedir da rua e ignorar as pessoas. As pessoas juntaram-se, viram-na subir o calçadão, puxar pelas pernas para escalar a escadaria enorme. Durante algum tempo pensaram nela. Nunca ninguém soube o seu nome, nem se foi feliz na vida. Anos depois, um modesto cronista contou-a numa crónica humilde.