25.9.06

Ponto e Vírgula

Todos os dias; logo pela manhã; enquanto me dirijo para o trabalho; eu dedico um pequeno hiato de tempo para me emocionar. Tenho feito disso um hábito diário; e essa ação tem me ajudado muito; no meu aperfeiçoamento enquanto ser humano; penso.

Pode ser uma música no rádio do carro; pode ser uma criança indo para o colégio com sua farda impecavelmente desarrumada; mas feliz da vida; pode ser um passarinho pegando migalhas na rua: desviando dos carros; em busca de sua sobrevivência dupla.

No caso hoje; foi uma música; não interessa qual; nem a letra; apenas o sentimento; e o sentido; é um arrepio discreto nos pêlos do braço e da face; os olhos marejados; a felicidade percorrendo o organismo.

Não uma alegria vazia; boba; até mesmo idiota; não é esse o sentimento; nem mesmo essa emoção; por mais tênue que pareça; nem mesmo ela é algo descartável. Algo fácil de explicar; ou de dizer ao outro:

- Fulano, trate de arrumar essa emoção pra você também. Se emocione, fulano! Logo! Se não dificelmente irás viver corretamente!

Não meus caríssimos seis leitores; não se trata disso; nem eu sei o porque de falar essas coisas; mas a música era linda naquela pequeno momento; naquela imperceptível fração de felicidade em que fui pego.

Apenas sigo; mais uma vez; com os olhos lavados; dessa coisa que não tem medida a qual nós chamamos de vida; mesmo que às vezes nela haja rima.

22.9.06

As coisas


As coisas
Arnaldo Antunes / Gilberto Gil - 1993

As coisas têm peso,
massa, volume, tamanho,
tempo, forma, cor,
posição, textura, duração,
densidade, cheiro, valor.

Consistência, profundidade,
contorno, temperatura,
função, aparência, preço,
destino, idade, sentido.

As coisas não têm paz.

© Rosa Celeste (BMG Mus. Pub. Brasil) / Gege Edições LTDA

18.9.06

Manias

Todos temos manias. Dizer isso é algo redundante, penso. É tanto doido, com tantas manias diferentes, que já virou uma coisa normal. Sabemos muito sobre as manias do próximo. Às vezes sabemos tanto sobre a dos outros que esquecemos de observar as nossas. Elas podem ser pequenas, mínimas, se manifestam de várias formas.

Minha morena mesmo só dorme toda enrolada. Com se estivesse num casulo. Mal sabe ela que já é uma borboleta e das amarelas. Aquelas que invadiram minha vida. Fui tirar onda com ela sobre sua mania e recebi a singela resposta: "- Eu durmo toda enrolada porque sempre senti sua falta, mesmo quando ainda nem te conhecia."

É isso que dá falar da mania alheia. Falarei então da minha principal.

Dia desses, passeando por um shopping center da vida, descobri uma mania que tenho. Na verdade sempre soube, mas passei a observa-la com mais cuidado, de forma sadia. Como algo construtivo. Ela é meio esquisita e alguém chegou a dizer que faço isso para me senti inteligente, ou maioral, ou sei lá o que. Descordo completamente dessa pessoa, pena que não lembro quem foi que falou. Passo a descrever a cena.

Eu gosto de entrar em uma livraria e olhar os produtos. Depois de uma volta pelas prateleiras me dirijo ao atendente e pergunto o nome de um escritor que eu julgo ser pouco conhecido por aqui. Estranhamente fico naquela expectativa da resposta ser negativa.

- Boa noite. (Digo eu)
- Boa. (Responde o atendente).
- Vocês tem José Eduardo Agualusa? Um escritor angolano...

E ele mexendo no PC...

- Agualusa é tudo junto?
- Sim. (Respondo)
- Infelizmente temos cinco livros registrados senhor, mas nenhum no estoque.
- Ah, que pena. Qual o preço?

Após uma breve consulta ele me diz os valores.

- Se o senhor desejar podemos fazer o pedido para a matriz em São paulo.
- Não, obrigado. Vou dar uma olhada na outra livraria, ali no segundo andar.

E saio feliz da vida porque não encontrei o livro. Não acho engraçado, diria que é até meio trágica essa minha mania. Pois a leitura é minha paixão...

Vai entender... cada doido com sua mania.

15.9.06

Apenas alguns pequenos registros de felicidade

Hoje acordei feliz. Aliás feliz de mais da conta. Abrir os olhos e sentir o cheiro da pessoa amada do lado é algo sem tamanho, sem medida. Preparar o café da manhã e receber um sorriso preguiçoso não tem como descrever. É felicidade em estado bruto e sem fim. Porque só acabam as coisas que são estocadas. Alegria não se estoca, se produz diariamente. De matéria prima nenhuma. Do nada. Apenas com muito humor e amor.

Amanhã faz três semanas que me mudei da casa dos meus pais para um cantinho próprio, junto com minha morena e o filhote que vem chegando. Sigo em um misto de felicidade plena, aprendizado e saudades dos meus pais. Eles nunca me fizeram tanta falta como agora e ao mesmo tempo não fazem falta alguma. Quem quiser que entenda o que estou dizendo. O paradigma é esse. Mais o nosso amor é firme. Único. Os valores e a força que me dão não tem forma, nem densidade, nem cor. O nosso amor é enorme e vence as distâncias, mesmo as mínimas.

Domingo vou ao casamento de meu primo Otávio, que amo e admiro. Ele casa com Dani. Pense em duas figuras ímpares. Eu nem acredito de tanta alegria. Vai ser num local mágico. Na igreja do Poço. Lugar lindo. Onde morei durante quase dois anos. Foi na casa de Tia Ana, mãe postiça e contrabandista de flores e Davi, o rei dos barbas. E esse lugar ainda mora em mim, pra sempre. Lugar de Seu Vital, Dudu (o papagaio de seu vital, eu ensinei ele a assobiar Wave de Tom Jobim), Naná e sua Kombi, Maurício Silva, Renata, Walter, Samarone, Luzilá, entre tantos...

Segunda... Segunda-feira? Eita! O que vou fazer segunda-feira mesmo? Já sei!
Vou engatar a primeira e sair masinho passeando pelas estradas da felicidade. Essas que ainda rodamos pouquíssimas vezes. E que precisamos manter o prumo nela. Diariamente.

13.9.06

Pedra e Asfalto

Essas linhas já estavam na minha mente há pelo menos uma semana. Demorei é verdade para coloca-las no papel. Ou melhor aqui na tela do PC. Cinco grandes amigos meus pegaram a estrada. A primeira parada não poderia ser mais emblemática: Vitória da Conquista, BA. Porque com um nome desses, esse lugar só pode ser o marco da conquista vitoriosa que eles irão consumar.

Foram em busca de seus sonhos. Seguem rumo ao desconhecido mundo do sudeste brasileiro. O asfalto, nesse momento é companhia constante, algumas paedras, penso eu, também o são. Ainda que por pouco tempo, torcemos. As linhas amarelas (ou brancas) que dividem a rodovia nunca são iguais. Ora pontilhadas. Ora unidas, ora desaparecidas. Ora, ora...

Eles Emocionaram um monte de gente por aqui, emocionaram com E em caixa alta mesmo que é pra dar mais força ao sentimento. Aqui em Pernambuco mostraram o que tinha e o que não tinha de melhor. E se foram, é verdade que por hora, deixando o povo por aqui com aquele apertinho no coração, e com lágrimas no canto do olho. Mas com aquela mistura gostosa, que não conseguimos identificar. No fim sabemos; é alegria mesmo.

Eles juntos formam um banda única. Com super-poderes que nem eles imaginam. Eu particularmente admiro-os desde o primeiro dia em que ouvi falar desse sonho, que virou projeto, que virou realidade, que virou luta, que virou música. Separados são apenas pobres mortais, mas eles irão descobrir isso um dia. Tenho certeza.

Pra vocês meus amigos. Iana, Pompi, Ronaldo, Galego e Beto. Que o palco seja sempre o meio do caminho e não o fim da linha. Fica aqui minha declaração de saudade. Se existesse um imposto que cobrasse a declaração de saudade de cada pessoa, talvez, o país estivesse em dias melhores.

5.9.06

Happy Birthday to You

Daqui a uma semana será o aniversário de cinco anos de uma pequena criança. Uma criança que irá continuar crescendo e nós ainda não temos noção do tamanho que ela atingirá. Falo queridos seis leitores do atentado contra o World Trade Center (WTC) em New York, Estados Unidos da América (EUA), que de unidos só tem o nome mesmo. Basta ver que cada estado daquele país tem suas próprias leis e regras individuais, e isso já é uma premissa para imaginar que de união eles não entendem nada.

Bom, problemas de lógica a parte, venho aqui para batermos um papo. Na minha concepção o debate sobre o ataque as torres gêmea é inesgotável e traz junto com ele uma porção de outros pontos e discussões. Após cinco anos temos visto o EUA aumentar sua sombra sobre países menos favoracidos. Em vez de prezar por uma política de negociação e inteligência, eles usam a força. E vão na marra impondo suas idéias. Idéias? É fácil criticar os EUA, não? Afinal ele são os mais odiados dos últimos tempos. Mesmo sofrendo essa violência, pois não acho ato de terrorismo de nenhuma espécie bonito. E olhe que tem gente que acha sim.

Mas não é isso que me apetece. O que me preocupa de verdade é que os EUA estão seguindo no mesmo caminho de todas as grandes potências historicamente reconhecidas em outras épocas. Roma, Cairo, Alexandria, Cuzcu, Penísula Balcânica.. O final da história já conhecemos, mas eles parecem teimar em pagar pra ver. Como se estivessem uma mesa de pôquer gigante. Aquela mesa lá da reunião do G-8 é algo que se assemelha muito a essa imagem que falo. Reflitam com seus botões quantos temas estão ali embuídos. Naquela imagem que parou o mundo. Religião, fé, raça, economia, relações exteriores, guerra, domínio, cultura, sexo, terror, segurança pública, etc, etc, etc, etc, etc...

Por hoje chega de falatório, que eu não quero cansar vocês, meus caros seis leitores. Daqui a alguns anos o WTC poderá até ser completamente apagado da memória de algumas pessoas (ela de novo em questão, a memória). Mas irá continuar vivinho da silva nos livros de história. Eternamente em chamas. Desabando infinitamente sobre nossas cabeças.