29.4.09

Cinzas Nuvens

Hão de passar esses dias em cinzas nuvens. O vento vai soprar novamente e empurrá-las para bem longe, deixando à mostra mais uma vez o dia ensolarado.

À noite enluarada.

24.4.09

Afônico


Quarenta e oito horas depois continuo afônico. Culpa de Moacyr e Vandinho. E da chuva que caiu uma hora antes do jogo. E que jogo! Emoção do começo ao fim. No segundo tempo o time entrou apagado e levou um gol logo de cara. Parecia que iria tomar mais uns dois.

Nelsinho "Yoda" Batista havia feito uma alteração que parecia o fim da picada. Tirou Ciro que vinha bem na partida e colocou Fumagalli que entrou mal, errando muito. Depois colocou Luciano Henrique e Guto. O time cresceu e deu no que deu.

O resto é história e histórico. O segundo gol foi chorado, eu sei. E eu chorei um bocado com ele.

Para Carol, com amor.

E para Paulinho com admiração.

22.4.09

Para o alto, para a terra


Bem na frente do meu campo de visão - aqui no meu trabalho - estão construindo um prédio. Faça chuva ou faça sol os camaradas estão ali, já pelo sétimo andar, pendurados, com suas roupas azuis e seus capacetes amarelos. Vão cada vez mais para o alto, pra perto das nuvens. Cada vez indo mais longe do chão, para garantirem seu feijão com arroz no final do dia, bem aqui, no térreo.

Fico maravilhado com a capacidade do ser humano inventar as coisas. Nos dias de hoje é normal, estamos acostumados com prédio, aviões, navios, metralhadoras e napalmes. Acho que ainda não perdi esse brilho no olho. Essa faísca pelo encantamento das coisas criadas pelo homem e que se encerram em si próprias.

Construímos prédios altíssimos, e moramos um embaixo do outro (ou encima, depende do ângulo que se olha). Ficamos a metros de distância do chão, mas todos os dias precisamos descer cá embaixo, na terra, para dar prosseguimento às nossas vidas.

No prédio aqui da frente os caras trabalham com afinco. Há seis meses não existia nem esboço desse edifício. E agora já dá para perceber sua estrutura, o local do elevador, o local das escadas, essas coisas que nos levam todos os dias para o alto, e para a terra.

19.4.09

Fim da linha

Como disse certa vez Galvão Bueno, com direito a musiquinha do Senna tocando no fundo (pam pam pam pam pam pam!):

- ACABOU! É TETRA! É TETRA! É TETRA!

Aos outros só resta chorar pelo quarto ano consecutivo e colocar a culpa em alguma coisa bizarra ou esdrúxula, que no fim da linha, ou melhor, das contas dá no mesmo.

Uma pequena homenagem aos 15 anos de outro tetracampeonato. Clica aí no título do texto e veja, só não vale chorar... A reação do Roberto é bem parcida com a de tricolores e alvirrubros.

17.4.09

Sétimo dia

Quarta passada fez sete dias que Tavares da Gaita passou dessa pra uma melhor. Todo mundo que me conhece sabe da minha ligação com o Tavares, e por esses caprichos da vida não consegui ir ao enterro dele. Mas, como dizia Salvador Dalí, os gênios não morrem jamais, e Tavares vai continuar vivinho da silva, no nosso imaginário eterno.

Tem um vídeo de sete minutos feito por Márcio Werneck, um cara lá de sampa cheio de poesia no olhar. Ele me enviou essa pequena pérola que está inacabada, mas oxalá meu pai será concluída em breve. Basta clicar no título desse post, deixar carregar e assistir.

Se você não tem tempo de assisti-lo, caro leitor, então você está perdido nessa vida, pois quem não tem tempo para as pequenas belezas, fatalmente já não vive mais.

Ótimo início de final de semana!

13.4.09

Evolução?


Estou terminando de ler "Viagem de um naturalista ao redor do mundo - vol. 2" escrito por ninguém menos que Charles Darwin. No último capítulo, faltando umas vinte páginas para acabar o livro, a viagem de Darwin está quase no fim. Após passar pela África, Patagônia, Andes, Galápagos, Austrália e Nova Zelândia, o navio em que o gênio inglês estava rodando o mundo há quase cinco anos é obrigado a desviar a rota em direção a Cabo Verde e em consequência à Inglaterra e fazer uma parada no Brasil.

Surpreso (pelo texto e não pelo fato dele ter pisado em terras tupiniquins) me deparei com esse trecho, pelo jeito não evoluímos praticamente nada desde a visita de Darwin por aqui...

{...}No dia 12 de agosto de 1832 chegamos a Pernambuco, uma grande cidade na costa do Brasil, na latitude oito graus Sul. Ancoramos fora da baía, mas logo um piloto veio a bordo e nos levou para dentro do porto, onde ficamos perto da cidade.

Pernambuco é construída sobre alguns bancos de areia, baixos e estreitos, separados uns dos outros por canais rasos de água salgada. As três partes da cidade se ligam por duas longas pontes construídas sobre pilares de madeira.

A cidade é nojenta. As ruas são estreitas, mal pavimentadas e imundas; as casas altas e sombrias. A estação das pesadas chuvas mal terminou e, portanto, toda a região ao redor da cidade, que mal se eleva acima do nível do mar, está inundada, e todas as minhas tentativas de dar caminhadas falharam.

Devo aqui observar algo que me aconteceu pela primeira vez em quase cinco anos de andanças: deparei-me com uma falta de cortesia. Fui recusado, de forma bastante rude, em duas casas e em uma terceira obtive com dificuldade permissão para passar por seus jardins e chegar até uma colina não-cultivada com o intuito de ver a região.

Fico feliz que isso tenha acontecido na terra dos brasileiros, pois não nutro por eles quaisquer simpatia - uma terra de escravidão e, portanto, de corrupção moral. {...}

7.4.09

Momento histórico

Amanhã estarei presenciando in loco e in vivo um momento histórico. Não estamos de salto alto e nem contando com o ovo antes da galinha. Mas, é fato. Amanhã assistiremos (não de camarote, mas na arquibancada) a confirmação de que o eixo rio-são paulo já não manda mais no país. Que essa conversa de que time do nordeste é pequeno e não revela grandes talentos é tudo conversa fiada.

Amanhã estarei com meu irmão unindo forças e cantando com mais 30 mil vozes para empurrar o nosso time e coloca-lo em um lugar de onde ele nunca mais sairá. Aos tricolores e alvirrubros resta apenas assistir, caladinhos, com aquela ponta de inveja e até secretamente torcendo por nós.

E pensar que os ingressos não foram adquiridos em carnês, nem em filas quilométricas e muito menos com cambistas. Foi no bom clube mesmo, bastou trocar os pontos para finalmente ver o Palmeiras entregar os pontos.

3.4.09

Chuva


hoje chove muito, muito,
e parece que estão lavando o mundo.
meu vizinho do lado contempla a chuva
e pensa em escrever uma carta de amor/
uma carta à mulher que vive com ele
e cozinha para ele e lava a roupa para ele e faz amor com ele/
e parece sua sombra/

meu vizinho nunca diz palavras de amor à mulher/
entra em casa pela janela e não pela porta/
por uma porta se entra em muitos lugares/
no trabalho, no quartel, no cárcere,
em todos os edifícios do mundo/
mas não no mundo/

nem numa mulher/nem na alma/
quer dizer/nessa caixa ou nave ou chuva que chamamos assim/
como hoje/que chove muito/
e me custa escrever a palavra amor/
porque o amor é uma coisa e a palavra amor é outra coisa/
e somente a alma sabe onde os dois se encontram/
e quando/e como/

mas o que pode a alma explicar?/
por isso meu vizinho tem tormentas na boca/
palavras que naufragam/
palavras que não sabem que há sol porque nascem e morrem na mesma noite em que amou/
e deixam cartas no pensamento que ele nunca escreverá/
como o silêncio que há entre duas rosas/
ou como eu/que escrevo palavras para voltar
ao meu vizinho que contempla a chuva/
à chuva/

ao meu coração desterrado/

(Juan Guelman)