27.7.07

Viva as vaias!!!

Não acho bonito ver o povo vaiando quem quer que seja, durante um evento esportivo. Talvez por ter experimentado – até os 18 anos – a sensação de jogar em quadras e campos lotados, e saber que o atleta necessita antes de tudo, do aplauso, da vibração. Sem isso o esporte perde o sentido. Competir pra quê? Pra quem? O reconhecimento de alcançar uma meta é sim o prêmio maior para quem compete e se esforça.

Ver a platéia vaiando um político é até compreensivo. Pois, eles (os políticos) normalmente se escondem e não dão chances para que o povo possa se manifestar cara-a-cara com os supracitados elementos. O danado é que o povo deu pra vaiar os atletas também.

Ontem a globo quis dar uma de mãe-de-nós-todos e puxou a orelha da população com uma matéria justamente sobre isso. Falando de como é feio vaiar os atletas de outros países e que uma nação que pretende trazer as olimpíadas precisa ter espírito olímpico. E eu preguiçoso que estou, já maquinava a idéia de escrever sobre esse tema. Acabo “dando depois da concorrência”, como dizem por aí nas redações da vida nada fácil...

A população anda estressada. Uma massa cinzenta, sem forma, que morre de medo de sair às ruas e de pegar avião (finjamos que todo mundo no Brasil anda de avião). O jeito que o povo achou para extravasar foi vaiar. É apenas uma válvula de escape, como dizem os psicólogos que não estão de plantão. Vaiar qualquer sujeito que se atreva a bater o recorde pan-americano. Ou que tente meter a mão no dinheiro público. Só as vaias não resolver. Mas eu entendo o povo.

Ontem li alguém criticando a imprensa dos EUA’s por não publicar uma linha sequer sobre o PAN. Ou seja, estão esnoPANdo os jogos. Mandam os times universitários e papam tudo. A gente não investe no povo (olha ele aí de novo) e fica se doendo com os filhos do Tio Sam. Nem gosto muitos dos nossos irmãos (?) Yankes, mas aproveito pra dar uma lapada no pessoal daqui também. Acho no mínimo incrível, pra não dizer uma vergonha, a imprensa tupiniquim.

Desde de que o PAN começou não vi uma notícia mais sobre tiroteio, mortes e ações no morro do Rio de Janeiro. Lembrando para os desmemoriados que uma semana antes do famigerado torneio, a polícia invadiu o morro do alemão ou do francês, talvez do holandês, porque de gringo nós entendemos bem, e matou 19 “meliantes”.

Das duas uma. Ou os bandidos e policiais deram um tempo pra assistir (juntos?) aos jogos, e devem estar até se abraçando e vibrando com "ozouros", ou nossa imprensa é “tapada” e quer nos transformar em “tapados” também. Será? Meu deus!

Achando a primeira opção mais plausível, caros seis leitores, porque a nossa imprensa é boazinha e isenta, então queira oxalá meu pai, ter um PAN por mês, e a cada mês num estado diferente. Que Guarda Nacional que nada! Aí está a solução para a violência no país, ou no mínimo para a falta dela no noticiário.

25.7.07

Pérolas aos poucos

Coloco aqui um trecho de "Pérolas aos poucos" publicada na Revista Piauí de julho. A matéria fala sobre um experimento feito pelo Washington Post: colocar um dos maiores músicos do mundo para tocar violino em uma estação de metrô. Quem tiver interesse em ler o texto completo, segue o endereço http://www.revistapiaui.com.br/. Ela está na coluna vida urbana. Vale muito a pena! O autor é o jornalista Gene Weingarten.

[...] Ave Maria de Schubert, que surpreendeu alguns críticos quando estreou em 1825: Schubert raramente manifestava algum sentimento religioso nas suas composições, mas ainda assim a Ave Maria é uma admirável obra de adoração à Virgem Maria. Esta prece musical tornou-se uma das peças religiosas mais conhecidas e duradouras de toda a história. Poucos minutos depois de começada, ocorre um fato revelador. Uma mulher emerge da escada rolante junto com seu filho em idade pré-escolar.

A mulher caminha apressada e, portanto, o menino também. Ela o puxa pela mão. “Eu estava muito atrasada”, lembra Sheron Parker, diretora de informática de uma repartição federal. “Tinha uma aula de treinamento às oito e meia, e antes precisava entregar Evan para a professora, depois correr de volta para o trabalho.”

Evan é seu filho e tem 3 anos. Evan aparece claramente no vídeo. É o lindo menino negro de parka que fica virando a cabeça tentando olhar para Joshua Bell enquanto é puxado na direção da porta. “Havia um músico”, lembra Sheron Parker, “e o meu filho ficou intrigado. Ele queria parar para ouvir, mas eu estava sem tempo.” E assim, ela faz o que precisa. Interpõe seu corpo entre Evan e Bell, cortando a visão do seu filho. Quando estão saindo da galeria, ainda dá para ver Evan torcendo o pescoço para tentar enxergar.

O poeta Billy Collins certa vez observou com humor que todos os bebês nascem conhecendo poesia, porque a batida do coração da mãe forma um iambo. E então, disse Collins, a vida começa a sufocar aos poucos a poesia que havia em nós. O que também pode se aplicar à música.

Não há um padrão étnico ou demográfico que possa diferenciar as pessoas que ficaram para ouvir Bell, ou as que deram dinheiro, da vasta maioria que seguiu o seu caminho apressado, sem tomar conhecimento do músico. Há brancos, negros e asiáticos, jovens e velhos, homens e mulheres, representados nos três grupos. Só existe um grupo demográfico cujo comportamento foi sempre consistente. Toda vez que uma criança passava, tentava parar para assistir. E, toda vez, o pai ou a mãe não deixava. [...]

23.7.07

EsTAMos lascados!

Após um pequeno hiato de tempo (um tanto indefinido e desmemoriado), caros seis leitores, o seu, o meu, o nosso espaço virtual volta a carga. O motivo da ausência foi triplo. Não caros seis leitores, não é de homicídio que falo, apesar de ser moda.

Esqueci a senha (culpa minha) e fiquei com preguiça de solicitar uma nova (culpa minha também). O terceiro e último (amém) culpado foi o tempo, ou a falta dele. Mas isso aí é praxe. Se você não tem outra desculpa pra dar, diga que foi falta de tempo. Como fiquei com saudades das citações já enfio uma aqui (ops!) do Arnaldo Antunes: "Se não tem coisa alguma pra dizer então não diz coisa nenhuma".

O De Veneta volta trazendo as notícias e novidades mais quentes da minha rua, ou do seu mundinho. Basta descobrir de qual ângulo estamos observando as coisas. Deixamos, então de enrolação e explicação e do ão, porque isso enche o saco, até daqueles que não os possue. Todo mundo falou do fatídico acidente com o Airbus (descobrimos uma palavra nova para avião com muita gente), e o De Veneta não poderia ficar de fora. Só digo uma coisa: esTAMos lascados!

Depois que perceberam que não podemos nem fazer mais top top com as mãos no sentido de dizer: tem gente que tá fudida, no reduto particular porque pode haver uma câmera lhe filmando, a coisa vai desandar. Enquanto uns choram nossos mortos pela junção de vários fatores inclusive a incompetência humana. Outros recebem medalhas do mérito Santos Dumont, apenas uns dois dias depois do "saceiro" em Congonhas.

É esse o país que estamos construíndo? O Brasil é o país do futuro, mas o futuro nunca chega, porque ficamos presos no nosso passado de mesquinharia, babaquice e gente tapada. Enquanto continuarmos olhando os aviões decolar e pousar na tora, continuaremos com medo. Antigamente as pesoas perguntavam: joãozinho, você tem medo de quê? Hoje em dia é mais fácil listar do quê não temos medo. E tenho dito: por hora esTAMos lascados!