Dos vizinhos e outras vivências
Assim que ela desceu falando em voz alta, meio que se justificando por estar mexendo em sua bolsa, para não me fitar, me veio uma reflexão e várias lembranças... Lembranças da época que realmente tinhamos vizinhos, aqueles que moravam nas casas ao lado. Que emprestavam algum eletrodoméstico. Aqueles com os quais trocavamos bom-dias e até-logos.
Perdemos essa convivência, sorte de quem ainda a tem. Que pode pedir socorro literamente em momentos de dificuldade (foi meu caso, quando cortei a mão pulando um muro e o casal de vizinhos do lado esquerdo prontamente me ajudou). Quando entrei em casa, sentei na sala e parei um pouco para pensar nesse assunto. Me dei conta de como nem ligamos mais para isso, nem percebemos da importância que essas coisas tem em nossas vidas.
Apenas nos trancamos, cada um em seus apartamentos, com seus olhos-mágicos-que-não-conseguem-enxergar-mais-que-o-corredor, e achamos tudo normal. Deu uma saudade tremenda da Rua Vicente Ferreira, na torre, onde morei durante 11 anos. Por acaso, passei por ela esta semana e vi que um lado da rua está todo tomado pelos prédios. Os antigos vizinhos, já não moram mais lá. Se foram. Talvez em busca de um local onde ainda possam ser realmente vizinhos uns dos outros.